O que você está vendo nesta foto não é um peixe de chapéu. Na verdade, este pequeno peixe bodião da espécie Symphodus melops está sendo parasitado por um par de isópodes cimotóides da espécie Anilocra frontalis. Os cimotóides (Família Cymothoidae) são crustáceos parasitos de várias espécies de peixes ósseos e peixes cartilaginosos, como também de determinadas espécies de invertebrados. Os cimotóides incluem algumas das maiores espécies conhecidas de isópodes, atingindo 75 mm de comprimento. O corpo destes isópodes é achatado dorso-ventralmente e pode, em algumas espécies, ser ligeiramente retorcido para um lado ou para outro, provavelmente uma resposta de crescimento de acordo com a posição que ocupa no peixe hospedeiro.
A boca destes animais possui um intricado e complexo sistema de apêndices espinhosos e afiados que servem para se segurar firmemente e raspar o corpo do hospedeiro. A característica mais notável destes isópodes é que praticamente todas as espécies conhecidas possuem sete pares de patas articuladas e preênsis, equipadas com garras na ponta para poderem se agarrar bem em seus hospedeiros. Dentro dos Cymothoidae, existem quatro estratégias principais de fixação nos peixes hospedeiros: 1) na superfície externa do corpo (é o caso de Anilocra frontalis); 2) dentro da boca; 3) dentro da cavidade branquial; e 4) dentro do tecido muscular do hospedeiro [1]. Em Anilocra frontalis, é comum encontrar dois indivíduos, um macho e uma fêmea, no mesmo hospedeiro. Normalmente, A. frontalis se fixa acima do opérculo, atrás do olho, sempre acima da linha lateral do peixe [2].
Em termos reprodutivos, é provável que todas as espécies sejam hermafroditas protândricas. Isto significa que, durante o desenvolvimento, indivíduos machos podem se tornar fêmeas adultas. Esta transformação é um processo complexo e depende de muitos fatores, incluindo a presença de outros indivíduos, especialmente de outras fêmeas, o que inibiria a transformação, diminuindo a competição intra-específica em um espaço limitado, que é o corpo do hospedeiro. As fêmeas são geralmente bem maiores do que os machos.
De acordo com o zoólogo Richard Brusca, autor de um dos livros mais famosos sobre a biologia de invertebrados, os Cymothoidea estão entre os grupos mais desafiadores e problemáticos entre toda a ordem Isopoda [3]. Os muitos aspectos desafiadores da família, desde a coleta até a identificação, fazem com que os cimotóides não sejam sistematicamente estudados, com poucos especialistas em todo o mundo. A Família Cymothoidea é uma das diversas entre os isópodes, abrangendo 40 gêneros e mais de 380 espécies descritas [4]. A maior parte é representada por espécies marinhas. No Brasil são conhecidas aproximadamente 39 espécies de Cymothoidea parasitando peixes marinho e de água doce [5]. Em português esses animais são conhecidos como «piolhos de peixe», mas esta denominação é muito vasta e abrange outros grupos de parasitos. Poderiam muito bem ser chamados «carrapatos do mar».
Registro realizado no dia 3 de setembro de 2023, na praia de Lividic, região norte do Finistério, Bretanha (região noroeste da França). Vários bodiões pequenos foram encontrados durante a maré baixa, se escondendo embaixo de um banco de algas. Um deles estava premiado...
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