Anfíbio cecília da espécie Siphonops annulatus encontrado na Serra dos Cavalos, zona rural do município de Caruaru, Pernambuco, no dia 28 de novembro de 2021. As cecílias, ou cobra-cegas, podem ser rapidamente distinguidas dos outros grupos vivos de anfíbios (anuros e salamandras) por seu corpo alongado, cilíndrico, sem patas e recoberto de anéis. Frequentemente as cecílias são confundidas com as anfisbenas (ou anfisbênias), répteis que possuem corpo alongado, cilíndrico e que também não possuem patas. Externamente, a grande diferença entre cecílias e anfisbenas é que estas últimas possuem o corpo recoberto por pequenas escamas retangulares. A denominação cobra-cega ou cobra-de-duas-cabeças normalmente é utilizado para os dois grupos de animais, gerando muita confusão. De toda forma, a denominação cobra-cega descreve uma das características mais evidentes das cecílias. Seus olhos são muito pequenos ou mesmo vestigiais, frequentemente recobertos por pele. Dessa forma, pode-se dizer que elas são efetivamente cegas. Mas não são cobras!
As cecílias pertencem à Ordem Gymnophiona e são encontradas na maior parte das regiões tropicais da Africa, do Oeste da Asia, e Americas Central e do Sul. São conhecidas aproximadamente 176 espécies de cecílias distribuídas em 35 gêneros [1]. A maior parte das espécies apresenta comportamento terrestre e fossorial, sendo capaz de cavar tuneis no solo e viver dentro de troncos de árvores mortas em ambientes de florestas úmidas. Algumas espécies possuem hábitos semi-aquáticos. Por causa da sua capacidade de se enterrar com a ajuda da cabeça, o crânio das cecílias é robusto e fortemente ossificado, bem diferente dos crânios de anuros e salamandras [2].
As cecílias não são vistas facilmente em seus ambientes naturais e muitos aspectos da sua história de vida são pouco conhecidos. De uma forma geral as cecílias não apresentam dimorfismo sexual. Os adultos se alimentam predominantemente de minhocas, cupins e larvas de besouros [3]. Algumas espécies guardam a característica ancestral de desenvolvimento aquático de suas larvas. Porém, grande parte das espécies apresenta desenvolvimento direto e viviparidade. A fecundação é interna.
A espécie Siphonops annulatus apresenta uma grande distribuição geográfica no Brasil, ocorrendo em praticamente todos os biomas terrestres [4]. Pode medir até 72 centímetros de comprimento apresentando em média 90 anéis ao longo do corpo [5]. Esta espécie apresenta um intrigante comportamento de cuidado parental. Durante o período reprodutivo, a fêmea, após a copula, cava um túnel e constrói um ninho subterrâneo para depositar seus ovos. Após a eclosão, os filhotes alimantam-se de partes da pele da própria mãe. Este comportamento é chamado de dermatofagia. materna. Os filhotes nascem equipados com um conjunto especial de dentes temporários usados para marcar e levantar a epiderme do corpo da mãe sem a ferir no processo. O crescimento dos filhotes é muito rápido. Seu tamanho aumenta em 130% em apenas uma semana após a eclosão. Os filhotes se tornam independentes após 3 meses [6].
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